sábado, 28 de abril de 2012

Um outro aspecto fluvial: a cheia



Para a Geomorfologia, no sentido geral, um rio é um curso de água doce natural, com canal definido e fluxo permanente ou sazonal, que deságua em um outro rio, no mar ou em um lago. Ele recebe água pelo escoamento superficial e pelo escoamento de base, e perde pela evaporação. No regime fluvial, que resulta da oscilação da quantidade de água presente em um rio no decorrer de um ano, destacam-se dois períodos: de vazante e de cheia, que coincidem com o período de menos chuvas e com o período mais chuvoso, respectivamente. No caso do rio Amazonas, denominado Solimões a partir da divisa entre Peru e Brasil até a confluência com o rio Negro, a cheia ainda conta com uma pequena contribuição nival, que ocorre pelo degelo a montante. Por isso, admite-se que o regime de cheia do Solimões, tem contribuição plúvio-nival.

Esta região, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) 1ºDISME (Distrito de Meteorologia), apresenta a seguinte sazonalidade: os meses que chovem mais são dezembro, janeiro, fevereiro e março, período considerado como inverno, ou seja, o mais chuvoso e; aqueles que chovem menos são junho, julho, agosto e setembro, período conhecido como verão, quer dizer, quase sem chuvas. Os meses de abril, maio, outubro e novembro, formam o que pode ser entendido como período intermediário. Dependendo do volume de água, o rio apresenta um leito menor, quando está no período de vazante e um leito maior, que é ocupado no período de cheia. A largura do rio Solimões/Amazonas alcança até 15 km, como ocorre na confluência com o Tapajós. Como boa parte das margens são várzeas, e por ser assim, são áreas inundáveis, sua largura pode atingir até 100 km, o que representa uma área inundada do tamanho da Inglaterra, ou seja, 130.439 km². A profundidade, que varia entre 50 a 100 m, considerada sua maior profundidade e localizada no estreito de Óbidos, é alterada entre 10 e 15 metros.


A Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais( CPRM) anunciou que o rio Negro deverá chegar a marca de 29,60 m de profundidade em média, até o mês de junho. O encarregado do Serviço Hidrográfico do Porto de Manaus, Valderino Pereira da Silva, 63, anunciou que o nível da cheia do rio Negro subiu mais 5 cm, de quarta-feira para quinta (29/03). Ele enfatizou que nesta mesma data no ano de 2009, o nível era de 27,35 m, e neste ano, na mesma data já atingiu 27,60 m. O relatório final da CPRM aponta que o fenômeno da cheia do sistema Negro/Solimões referente ao ano hidrológico 2008/2009, alcançou 29,77 m, constituindo-se a maior marca dos últimos 107 anos. A média das máximas, observadas desde 1902 no Roadway (Porto de Manaus) historicamente tem sido 27,80 m, com desvio padrão de 1,14 m.
 Na microrregião do Alto Solimões, quatro municípios decretaram situação de emergência: Atalaia do Norte, Benjamin Constant, São Paulo de Olivença e Tabatinga. O nível do rio alcançou 13,1 m na manhã do dia 30 de março. De acordo com a Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais (CPRM), esta marca já superou em três centímetros, o nível máximo registrado na enchente de 2009. E assim como ocorreu naquela enchente, esta também se repercute no cotidiano de quem mora em bairros sujeitos a inundações ou nas comunidades ribeirinhas, trazendo a inundação de moradias, alterando o calendário escolar, inundando áreas de plantio e consequentemente somando prejuízos para a economia local. Letícia, cidade vizinha colombiana, pela localização à margem do rio Solimões, não foge à regra.

A Defesa Civil aponta que já são 81 famílias atingidas pela enchente no bairro Guadalupe, oeste da cidade de Tabatinga, e também orientou que a secretaria de educação deste município suspenda as aulas de 24 comunidades. A orientação foi acatada e cerca de 3 mil alunos tiveram suas aulas suspensas para afastar o risco de afogamentos. As pessoas que têm familiares naquelas comunidades localizadas em terra firme estão se mudando, para evitar uma perda maior.
As autoridades já se mobilizam para atender aquelas localidades com pior situação. O ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho sobrevou algumas destas áreas afetadas. O governo federal publicou portaria concedendo 8 milhões de reais, que somados aos 6 milhões de reais do Programa Cartão Amazonas Social, do governo do estado, espera-se atender as pessoas em situação de risco. Para o Alto Solimões, a ajuda está sendo organizada pelo Sub-Comando de Ações da Defesa Civil do Estado do Amazonas (Subcomandec). “Estamos providenciando a logística para atender os municípios do Alto Solimões, afetados pela cheia”, afirmou Hermógenes Rabelo, secretário adjunto da Defesa Civil do Estado do Amazonas.


sábado, 14 de abril de 2012

Enchente no Alto Solimões 2012

Fotos da enchente do Alto Solimões em 2012 no Complexo Turístico em Tabatinga (AM).







O ano é 2012, mas os problemas são os mesmos de anos passados


Por Prof. Msc. Paulo Almeida da Silva

O ano começa de novo com as chuvas causando muitos danos no sudestebrasileiro e faltando no sul do Brasil. Percebe-se que assim como étão importante  conhecer o solo, os rios, a fauna e a flora, de igualmodo necessitamos conhecer o clima.
O clima é definido por Julius Hann (século XIX) como: “conjunto de fenômenos meteorológicos que caracterizam a condição média da atmosfera sobre cada lugar da Terra”. O autor J.O. Ayoade (anos 1980) define como sendo: “síntese do tempo num determinado lugar durante um período de 30-35 anos”.
Para Max Sorre é: “série dos estados atmosféricos acima de um lugar em sua sucessão habitual”.
Durante o período compreendido entre o século VI a.C e XVIII d.C. O clima era uma das partes tratadas dentro de um único ramo do conhecimento. Com o advento da ciência moderna e junto consigo aquilo que a tornou moderna: a sistematização; este conhecimento assim como todos demais sofre uma fragmentação, tornando possível que um mesmo elemento passe a ter diferentes apreensões com outras abordagens.
Assim, o clima tem sido tratado por vários segmentos da ciência, dentre eles destacamos a meteorologia e a climatologia. A meteorologia, inserida no campo das ciências naturais faz a observação dos fenômenos isolados e do tempo atmosférico. Fenômenos como raios, trovões, descargas elétricas, nuvens, composição químicado ar, previsão do tempo, radiação (insolação); temperatura; umidade (precipitação, nebulosidade etc.) e pressão (ventos, etc.) podem ser individualmente observados e claramente explicados pela meteorologia.
A climatologia denota-se como uma subdivisão da meteorologia, e está entre as ciências humanas (Geografia) e as ciências naturais (Meteorologia). É voltada à observação da espacialização dos elementos e fenômenos atmosféricos e sua evolução, como ocorre com a média térmica, pluviométrica e de pressão, que vem a ser a apreensão do comportamento médio dos elementos atmosféricos. Nas definições de J.O. Ayoade e Max Sorre, constam os termos “síntese do tempo” e “sucessão habitual” que nos remetem ao papel da climatologia, que busca num período mínimo de 30 a 35 anos, compreender a cadência rítmica de sucessão de tempo, que pode ser percebido pela decomposição cronológica que caracterizará o ritmo climático. Em vista disso é que a climatologia precisou fazer uma abordagem genética dos tipos climáticos, onde o maior desafio tem sido apreender a complexidade que envolve a dinâmica da atmosfera. Sua análise da dinâmica das massas de ar e das frentes a ela associadas e tipos de tempo, ainda apresenta-se contraditoriamente satisfatória e insuficiente. Isto porque as irregularidades são vistas como mais importantes que os estados médios. Monteiro (1971) apud Mendonça e Danni-Oliveira (2007, p.21) diz que: “O ritmo climático só poderá ser compreendido por meio da representação concomitante dos elementos fundamentais do clima em unidade de tempo cronológico pelo menos diária, compatíveis com a representação da circulação atmosférica regional, geradora dos estados atmosféricos que se sucedem e constituem o fundamento do ritmo”. Dentre as massas de ar que tem forte influencia na região amazônica, desponta-se a MeC (Massa Equatorial Continental), cujo alcance vai além desta região, pois ela dispersa uma boa parte da umidade local em direção ao sudeste brasileiro. Todas estas noções do comportamento do clima e suas conseqüências sobre o tempo nos permitem a aproximação doque vai ocorrer em determinadas épocas do ano. E agora estamos numa época de muita chuva no oeste da Amazônia e como uma boa parte desta umidade vai afunilando em direção ao sudeste brasileiro, pode-se esperar o mesmo por lá, com um agravante: o relevo é predominantemente formado de muitas encostas, que dada a densidade demográfica do Rio de Janeiro que é de 366,01 habitantes por km², não precisa ser funcionário do governo do Rio de Janeiro nem da União para saber no que isso pode resultar. E é lamentável ver no noticiário como ainda ocorre. Em janeiro passado, a presidente Dilma sobrevoou a área destes deslizamentos e respondeu aos fatídicos acontecimentos anunciando a liberação de 780 milhões de reais para reconstruir as cidades afetadas. Infelizmente, os recursos não foram devidamente aplicados e Teresópolis e Nova Friburgo, são exemplos de municípios cujos recursos desviados tem afastado ou derrubado prefeitos de seus cargos e novamente deixando vidas, muitas vidas a mercê destes fenômenos naturais.


segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguns aspectos fluviais: O caso do Rio Madeira

Durante a segunda quinzena do mês de fevereiro de 2012, eu estava em Manicoré (distante da capital 390 km em linha reta e 616 km via fluvial) lecionando a disciplina Geomorfologia para uma turma de Geografia do Parfor, um programa federal que proporciona a segunda licenciatura daqueles professores que são formados em uma determinada área e estão lecionando outra. E como parte das atividades de ensino da disciplina, fomos a campo observar alguns dos fenômenos que abordamos em sala de aula. Conseguimos visualizar alguns. Mas, foi na visita ao porto da cidade que mais uma vez fui surpreendido pela velocidade do fluxo do rio Madeira. 

A visita ao porto era exatamente para comentar alguns dos aspectos que a geomorfologia fluvial trata sobre os rios. Conseguimos a autorização para conhecer as instalações deste porto que já foi concluído, mas ainda não está em operação. Sua construção teve início em 2007 e foi concluída em 2010. Na visita, fiquei observando como foi desafiador o trabalho dos engenheiros para colocar o porto onde está, pois mesmo sendo um rio de planície, o rio Madeira já vem sendo usado para a geração de energia elétrica, pela forte correnteza que tem.

O rio Madeira, que percorre parte dos estados de Rondônia e Amazonas, nasce no Andes bolivianos com o nome de rio Beni. Segue em direção ao norte, recebe o rio Mamoré-Guaporé e a partir da linha divisória entre Bolívia e Brasil recebe o nome de rio Madeira, denominação que lhe foi atribuída devido ao número de árvores que ele já arrastou e ainda continua arrastando. Sua profundidade na cheia alcança a marca de 13 metros de profundidade, o que o torna navegável no percurso entre Porto Velho até o seu encontro com o rio Amazonas, próximo à Itacoatiara, depois de ter percorrido 1.500 km, desde a sua nascente. A largura varia de 440 a 9.900 metros. Não se assuste leitor(a), eu não errei a largura. Só para efeito de comparação, o rio Negro alcança a espantosa marca de 12 km de largura, próximo à Manaus (JUNK, 1983, p.47).


 A velocidade da corrente de um rio é obtida em vários pontos da seção do curso d’água, variando não só as posições no sentido transversal como também no sentido vertical, dito de outra forma, variando as posições de uma margem a outra, e também no nível de profundidade. Geralmente, a velocidade da corrente de um fluxo fluvial, é maior nos centro do que nas margens.

A velocidade do rio Madeira, que venho destacando neste artigo, é de 10 km/h, surpreendentemente o dobro da velocidade do rio Amazonas, que é de 5 km/h (JUNK, 1983, p.48). O ponto de atracação das embarcações no porto de Manicoré, fica quase no centro do rio, sabendo que a corrente é maior no centro que nas margens e dependendo do peso das mercadorias que deverão estar circulando nestas instalações, mais o peso de cada embarcação atracada, imaginem quão resistente deve ser esta estrutura para suportar a força desta correnteza. Estou convencido que os engenheiros além de levar isso em conta, já ouviram as muitas histórias que este rio já possui.

Considerando que o rio Solimões passa a ser denominado de rio Amazonas após a confluência com o rio Negro, sendo este o principal afluente do Solimões, o rio Madeira, goza do status de principal afluente do rio Amazonas. Quando comparamos algumas de suas particularidades, como por exemplo a vazão, somos surpreendidos com sua magnitude. Vazão representa a rapidez com a qual um volume escoa. No rio, vazão nos remete ao volume de água que passa por uma determinada seção, num determinado intervalo de tempo. Rios como o Paraná e o Tocantins que já são conhecidos pelo uso na geração de energia elétrica, ambos possuem uma vazão de 11.000 m³/s. Outro rio bastante utilizado na geração de energia elétrica é o São Francisco. Sua vazão? Acredite: apenas 2.850 m³/s. O rio Xingu, onde deverá ser construída a hidrelétrica de Belo Monte tem uma vazão de 9.700 m³/s. O rio Madeira registra a cota de vazão de 31.200 m³/s. Sua vazão que supera a de outro importante afluente, o rio Negro, que é de 28.400 m³/s, fica atrás somente do próprio rio onde desemboca, que atinge no período das cheias a incrível marca de 209.000 m³/s.


E-mail: geopalmeida@gmail.com