sexta-feira, 6 de julho de 2012

Além das águas da cheia

Desde tempos remotos que os rios têm sido importantes não apenas para
a conexão entre civilizações, mas, também contribuíram para o
surgimento, às suas margens, de várias delas. Por estas vias fluviais
entrou o branco invasor, que encontrou e conquistou as civilizações
ameríndias. Civilizações que ainda hoje despertam muita curiosidade
aos estudiosos, pela sua cerâmica, pelos seus templos no relevo
andino, pelo conhecimento que já possuíam e muitas outras
características igualmente interessantes.
Vivemos em uma região com a maior bacia hidrográfica e o maior rio do
planeta. E apesar disso, ainda nos surpreendemos com as proporções a
que chegam os rios desta bacia, quando é época das cheias. Nossos
antepassados também conviveram com elas, e da mesma forma tomaram
muitas lições. A ciência vêm procurando estudar os rios pelo enfoque
da geologia, da geomorfologia, da hidrologia, da hidrografia, da
limnologia etc. Desde os altiplanos peruanos até a sua foz, o rio
Amazonas continua sendo um mestre na arte de ensinar. Uma destas
lições ele nos mostra pelo menos uma vez por ano: seu volume d'água.
Visto pelos engenheiros como um importante meio de geração de energia
elétrica. De fato, é um volume muito grande que assim como em outros
tempos, nesta última década vêm de novo mostrando sua força. E também
reforçando a lição que não pode ser represado. Basta olhar como ficam
as suas margens quando ele está cheio, imagine como ficariam se fosse
represado? É o maior rio do mundo, não deve ser subestimado.
A hidrologia nos explica que não é apenas água que o rio está
transportando. Embora seja isso o que mais nos é visível e de
fundamental importância para o ciclo hidrológico. O rio perde água
pelo escoamento, pela infiltração e pela evaporação, contribuindo
desta forma para o ciclo da água. Mas, além disso, o rio e toda a sua
bacia também transportam sedimentos, desempenhando a tarefa que
segundo Filizola (2003) é transportar para os oceanos a matéria
sublevada dos continentes, constituindo-se também preponderantes para
a manutenção do ciclo dos elementos.
Filizola (2003), considera que "os rios respondem muito rápido às
condições do meio existente na superfície dos continentes, em alguns
meses para o caso do transporte em solução, e em alguns anos para o
caso do transporte em suspensão. Portanto, são particularmente
sensíveis à toda mudança, seja ela climática ou resultante de
atividades humanas (antropismo)". Esta é outra lição que não pode ser
esquecida. A erosão, transporte e deposição que resultam dos trabalhos
dos rios, contribuem não apenas para a modelagem da paisagem, mas,
transferem importantes nutrientes para vários pontos de seu percurso
até o oceano. Estes nutrientes, por onde passarem, até mesmo quando
alcançarem o oceano, levarão consigo a possibilidade da manutenção da
ictiofauna e das espécies marinhas.
Na nossa região não é diferente. Toda vez que a cheia acontece, inunda
margens e sobre elas deposita uma nova carga de nutrientes. Alcança
lagos e outros cursos d'água transferindo vários nutrientes de um
ambiente para outro.
São breves lições que o rio insiste em nos mostrar, mas essenciais
para lembrar o que já foi decantado numa toada: " a vida depende da
vida para sobreviver".