segunda-feira, 9 de abril de 2012

Alguns aspectos fluviais: O caso do Rio Madeira

Durante a segunda quinzena do mês de fevereiro de 2012, eu estava em Manicoré (distante da capital 390 km em linha reta e 616 km via fluvial) lecionando a disciplina Geomorfologia para uma turma de Geografia do Parfor, um programa federal que proporciona a segunda licenciatura daqueles professores que são formados em uma determinada área e estão lecionando outra. E como parte das atividades de ensino da disciplina, fomos a campo observar alguns dos fenômenos que abordamos em sala de aula. Conseguimos visualizar alguns. Mas, foi na visita ao porto da cidade que mais uma vez fui surpreendido pela velocidade do fluxo do rio Madeira. 

A visita ao porto era exatamente para comentar alguns dos aspectos que a geomorfologia fluvial trata sobre os rios. Conseguimos a autorização para conhecer as instalações deste porto que já foi concluído, mas ainda não está em operação. Sua construção teve início em 2007 e foi concluída em 2010. Na visita, fiquei observando como foi desafiador o trabalho dos engenheiros para colocar o porto onde está, pois mesmo sendo um rio de planície, o rio Madeira já vem sendo usado para a geração de energia elétrica, pela forte correnteza que tem.

O rio Madeira, que percorre parte dos estados de Rondônia e Amazonas, nasce no Andes bolivianos com o nome de rio Beni. Segue em direção ao norte, recebe o rio Mamoré-Guaporé e a partir da linha divisória entre Bolívia e Brasil recebe o nome de rio Madeira, denominação que lhe foi atribuída devido ao número de árvores que ele já arrastou e ainda continua arrastando. Sua profundidade na cheia alcança a marca de 13 metros de profundidade, o que o torna navegável no percurso entre Porto Velho até o seu encontro com o rio Amazonas, próximo à Itacoatiara, depois de ter percorrido 1.500 km, desde a sua nascente. A largura varia de 440 a 9.900 metros. Não se assuste leitor(a), eu não errei a largura. Só para efeito de comparação, o rio Negro alcança a espantosa marca de 12 km de largura, próximo à Manaus (JUNK, 1983, p.47).


 A velocidade da corrente de um rio é obtida em vários pontos da seção do curso d’água, variando não só as posições no sentido transversal como também no sentido vertical, dito de outra forma, variando as posições de uma margem a outra, e também no nível de profundidade. Geralmente, a velocidade da corrente de um fluxo fluvial, é maior nos centro do que nas margens.

A velocidade do rio Madeira, que venho destacando neste artigo, é de 10 km/h, surpreendentemente o dobro da velocidade do rio Amazonas, que é de 5 km/h (JUNK, 1983, p.48). O ponto de atracação das embarcações no porto de Manicoré, fica quase no centro do rio, sabendo que a corrente é maior no centro que nas margens e dependendo do peso das mercadorias que deverão estar circulando nestas instalações, mais o peso de cada embarcação atracada, imaginem quão resistente deve ser esta estrutura para suportar a força desta correnteza. Estou convencido que os engenheiros além de levar isso em conta, já ouviram as muitas histórias que este rio já possui.

Considerando que o rio Solimões passa a ser denominado de rio Amazonas após a confluência com o rio Negro, sendo este o principal afluente do Solimões, o rio Madeira, goza do status de principal afluente do rio Amazonas. Quando comparamos algumas de suas particularidades, como por exemplo a vazão, somos surpreendidos com sua magnitude. Vazão representa a rapidez com a qual um volume escoa. No rio, vazão nos remete ao volume de água que passa por uma determinada seção, num determinado intervalo de tempo. Rios como o Paraná e o Tocantins que já são conhecidos pelo uso na geração de energia elétrica, ambos possuem uma vazão de 11.000 m³/s. Outro rio bastante utilizado na geração de energia elétrica é o São Francisco. Sua vazão? Acredite: apenas 2.850 m³/s. O rio Xingu, onde deverá ser construída a hidrelétrica de Belo Monte tem uma vazão de 9.700 m³/s. O rio Madeira registra a cota de vazão de 31.200 m³/s. Sua vazão que supera a de outro importante afluente, o rio Negro, que é de 28.400 m³/s, fica atrás somente do próprio rio onde desemboca, que atinge no período das cheias a incrível marca de 209.000 m³/s.


E-mail: geopalmeida@gmail.com

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