quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O recuo das águas e as evidências da dinâmica fluvial

Afloramento de linhito em Tabatinga. Foto: Paulo Almeida (2006/2010)














Julho 2012

As águas continuam recuando e nos mostram mais uma vez o que já vem ocorrendo há milhões de anos, como resultado da dinâmica do rio. Em frente à cidade de Tabatinga, próximo à Comara, testemunharemos também o resultado de um fenômeno geológico que tem despertado interesse em entendê-lo. Refiro-me ao depósito de linhito que sempre fica exposto durante a seca do rio Solimões.
O Radambrasil (1977) esclarece que na constituição geológica desta parte da região amazônica, há sedimentos que foram depositados já na atual era geológica, denominada Cenozóica,  com idade inferior a 65 milhões de anos. E por serem da Era Cenozoica, são chamados de Depósitos Cenozóicos. Estes depósitos apresentam-se tanto em bacias sedimentares quanto em coberturas diversas. São por vezes até classificados estratigraficamente, mas sob os pontos de vista de extensão superficial e espessura não configuram uma bacia (SILVA et al., 2003, p. 78).
 Nesta parte oeste da Amazônia, estes sedimentos estão divididos nas Formações Solimões, inferior (Mioceno-Plioceno) e Içá, superior (Pleistoceno). Silva et al. (2003, p. 78) citando Maia et al. (1977), informa que os sedimentos da Formação Solimões consistem-se de argilitos, siltitos e arenitos. Além dos sedimentos pilo-pleistocênicos da Formação Solimões ocorre também os depósitos aluvionários holocênicos: Aluviões Indiferenciadas sobre terraços fluviais e Aluviões Atuais das planícies de inundação que estão associados à rede de drenagem amazônica superpondo-se em discordância com a Formação Solimões.
O trabalho de Hauxwell citado por Oliveira e Leonardos (1943) apud Radambrasil (1977, p. 27), nos estudos desenvolvidos a partir de conchas encontradas na Camada de Pebas, considerou que estes fósseis são de espécies de épocas não superiores aos do Terciário e que viveram em ambiente de água doce, ou talvez salobra.
Oliveira e Carvalho (1924 apud RADAMBRASIL, 1977, p. 27) viajaram pelos rios Içá, Javari e Solimões, embasados na informação de Stere (1871 apud RADAMBRASIL, 1977, p. 27), que havia constatado vários depósitos com características similares aos da Camada Pebas, tomadas então como extensão dela aflorando em Tabatinga, sob a forma de “leitos horizontais de argilas com veios de carvão argiloso”. Eles concluíram que estes afloramentos de linhito são do terciário e confirmaram o que pensava Stere (1871), correlacionando-os à Camada Pebas.
Medeiros; Schaller; Friedman (1971) e Suguio (1973) apud Radambrasil (1977, p. 37) consideram que a ocorrência destes depósitos carbonosos em ambiente de planície de inundação, deve-se à estagnação da água em decorrência de áreas mal drenadas, pantanosas ou lagos de meandros.
Esse material fossilífero tem fomentado muitos estudos, e embora alguns autores já o tenham encaixado no Mioceno-Pleistoceno, Mioceno, Oligoceno-Mioceno, Eoceno, etc., esta cronologia e posicionamento estratigráfico têm suscitado muitas controvérsias.
  
E-mail: geopalmeida@gmail.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário